segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O quadro

Um tingir de vermelho azul
Um fingir de anil escarlate
Um brinquedo de letras versadas
Um gesto de mãos emolduradas
Dois corpos atraídos de fervor
Duas carnes cintilantes de paixão
Produzem inúmeras raízes em uma árvore
Um frissom a dois
Dois corpos a um
Inquietante empolgação
...de uma simples razão
pela mais louca emoção...
de tingir
a tela
a janela
e por ela
ela
ela
a pintura.

Defloramento derradeiro

A centelha da vaidade corrói e corrompe a todo meu ser
Destroços de minha alma devem ser capturados por qualquer buraco negro e arrebatados por uma ventania cósmica
Não, não estou a ponto de perder a razão... é a melancolia e a distância que estão em questão
Aperto meu peito, meu sexo, meu ser, sem nada extrair
e essa melancolia que desatina as idéias que já nem tenho mais
ainda não estou pronto para encarar o meu fim, queria apenas afagá-la de perto e olhar nos olhos dela, saberia que não teria medo quando nos encontrássemos no momento derradeiro
Irei sufragar a Dionisio
Sem atracar o meu barco Viking
Tentado a suportar teu sorriso
Melancólico, bucólico...espasmos.
Louco e histérico ao som de B.B King

Existe somente eu e Gullar
intensifico a sensação de não mais existir
que já não me basta nenhum elixir
resvalo numa quimera alucinógena
mãos, pés, cabelos tão diminutos diante da minha sumaúma

Deveria encará-la e sentir-me inferior, impróprio de tamanha honra
preservaria minha passagem
apostaria novamente no primeiro páreo
faria traquinagem, como se fosse bebê...
em água turva sem tainha
de calça sem bainha
como se fosse beber
preservar minha passagem
minha imagem
Ver-te-ia de foice em punho a estalar os dedos e a piscar os olhos
acariciar-me a face e enxugar meu pranto
a revelar meu cansaço
e estirar os braços a me dar descanso
diz que não é minha vez
lutaria se forças tivesse
já que não é teu feitio
ouvir-me as preces
queria adiar, poderia apenas contemplar de longe

Então vem, me abraça e leva-me em teus braços
e arranca-me o baço
desatina minha vida
pois dela, como uma ex-virgem
tu morte, arrancou-me o cabaço.

Aurora

Os olhos da noite foram se abrindo
Um amanhecer ameaçava se apresentar
Diga-me, Aurora, no teu palco
Qual música do dia me farar dançar?

Pois hoje acordei com aquela vontade
De esquecer tudo que ontem sabia
Cada idéia de ontem, e me entregar a ti
Nova Aurora que resplandesce com o dia

Ouço por ti passarinhos cantando
Meu transe é tanto
Que chego a confundi-los com ratos
E me assusto, e levanto

És tu, me trazendo sua nova melodia
Inédita ainda, nascida com o dia
Sinto que hoje temos nova convidada
Uma Brisa de frio veio como quem nada quer.

Finjo não sentir dores na garganta
Para não parecer ranzinza a ti,
Aurora
Quero ser amigo do dia
Quero sorrisos quero amigos
Novos como sua melodia

Cantada pelos pássaros e pelos ventos
Da donzela fria, moça brisa
Suave me soprando
E me causando agonia
Ah!
Aurora querida,
Tenho em você um novo lindo dia.

Rasgando a garganta

O silêncio de outrora vem da minha furtiva sensação de ser
Um ser sem órbita e sem destino consumindo o lixo da TV
Saboreando as mazelas de uma sociedade fútil de ser
A dor que sinto, corrói o meu viver então me sepulto sem túmulo...

E esse silêncio que me deteriora o rosto e as mãos
Então me calo e sinto o peso nas ombreiras do velho jaleco
Tudo tão vago em minha mente, em minha frente tudo tão diferente.
Quero gestos naturais sem olhar para trás

Sem amores fugazes
Que não arranque vozes
Que deixe a todos ferozes
Quero liberdade

Sem conseguir viver ninguém
Sem ter aquém
Quero liberdade
São simples pensamentos distantes de mim
Esplêndido seria o colo de Iasmim e você e eu assim
Eu não agüento mais vou fingir que não choro
Para sentir saudades de um outro tempo
Nada faz sentido em minha volta
Procurando pés afoitos e mãos aflitas que digam venha
Que sejam démodés

Insensatez poesia oriunda de mim causando-me asco. Repudio essa insensatez... Essa melancolia
Tirarei toda minha roupa serei uma melancia
Recitando poesia.

Afagos ternos de mãos calejadas e eu aqui a viver assim
Quero o mundo, quero o muro e não partirei não partilhei.
São Salvador do Senhor do Bomfim
Agora já não sirvo a mesa e nem a cama e nem a sala
Só me resta o dia e a noite a contar do Alecrim

E um balanço estranho que percorre esse chão de terra onde não jorra água
Aqui nessa sala a ouvir o grito da rebeldia e o cheiro da cocada
E um terno prazer que sinto sobre a glande
Sobre a grande muralha do silêncio onde parece um casulo
Balanço estranho esse
Preciso de outro gole de outro fole de outro mole
Para sair correndo e não cair desse muro.

Sensações

Olho de sobressaio avaliando as sensações alheias
Seria um mistério a que se propõe o devaneio
Rico na concepção de simbologias e signos
Insano na proporção dos meios...
Altiva é a lembrança de teus olhos esverdeados
Atravesso tua alma por entre eles e chego a lugares ermos
Lanço-me sobre teus cabelos cacheados
E deparo com meu rosto em teus lábios vermelhos...
Minha paixão pela vida não consiste numa loucura pela paixão
Mais destino meus amores a tocar o chão
Sou vento, areia, chuva
Adoro o som da chuva, acariciando a janela do meu quarto
Sinto a vontade de criança quando está a sair num trabalho de parto
Agressivo e assustado
Molhado...
Como chuva
São sensações.

Poesia sem cor

Negra cor da minha pele do meu sangue do meu filho do meu mundo
Negra cor da minha alma do meu credo do meu povo do meu jeito
Cores para distinguir uma raça e muitas mentes de um povo imundo
Açoitados e humilhados sempre sorridentes, alegres de gesto faceiro.

E aqui existe um sujeito chamado preconceito, negro pensar dos imundos.
Diante de todos e sem pronunciar palavras ele aparece em gestos.
Serpente venenosa atraindo os sentimentos mais pútridos
Goza de privilégios entre os seus, para mim apenas reles dejetos.

Alastrando-se sem amor e sem compaixão em muitas vidas...
Preconceito de negro de branco de gay de puta de vício
Sentimento degenerado de Pedros e de Aidas
Lixo mental da imperfeição insana em qualquer sitio

Negra cor da mais linda do Curuzú, da Liberdade e do Pelô.
Negra cor do mais robusto entre os Filhos de Gandhi
Da dança faceira e do gingado do mestre Vovô
Que nem foi citado na comédia de Dante.

Afoxé e capoeira vatapá e carurú uma mistura de sabor
Dandara e Isabel Menininha e Amado miscelânea de cor
E aquele tal sujeito alastrando sentimentos podres e fúteis
Onde a cor da pele serve de passaporte para o mundo dos inúteis

Existem tantas cores e tantas raças e tantos negros
Existe tanto escárnio tanto eufemismo tanta metáfora
Já não sei se sinto algo que não seja medo
Ou que seja preconceito do próprio eu, prefiro a diáspora.

Não a cor do preconceito
Negra cor do meu peito
Não a crendice
Negra cor de quem vos disse

Negro negra
Negra negro
Negro e negra
Negra e negro.

O Ateu

Incansavelmente os instantes tornam-se mais espaçosos no auge da agonia
ao ver o pároco desmanchar a sua liturgia instigando a fé.
Ateu...
em um segundo apenas se atreveu
diante da agonia clamar o poder,
De Deus.
Numa obra humana de imperfeição
... a natureza da forma
arquitetônica
Torre de Pizza
Estátua da liberdade
Paternon

Dádiva divina comédia
Diante de mim apenas um semblante
Curvo e transfigurante
De Adamastor o gigante
Talvez as ninfas retratem melhor a ardilosidade do ser humano
De ser profano
Mundano
Inundando as periferias, as meretrizes e as favelas
Segue o pároco a proferir o milagre das mazelas
De Deus.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Identidade Forjada (Martírio de Diebo)

Uma semente que brotou em um terreno podre
forçados a sermos ervas daninhas...
Essa é a melhor explicação
eles nos vêem como ervas daninhas...
Filhos da puta!

E essa confusão de identidade reflete no povo brasileiro
falando em reparação, cotas, acaba sendo só uma massa de manobra
precisamos mais
mais do que só um simples ativismo pacífico
quando você é negro ou pobre ou gay e não faz nada, você toma no cu sem ky.

O homem é um bicho doente
mal por natureza
é o vírus...
a cor da minha pele diz que sou incapacitado, inferior
Ele utiliza da força do macro para se autodestruir
é o condicionamento e a tangência histórica
pensar nisso.

A galera do oriente não baixa a cabeça nunca
porque o passado faz parte da história
congênito
orgânico
o ocidente para “Eles” é uma peste no mundo
é foda cara
só não temos o direito de tirar a vida alheia.
discordo nessa questão de limpeza étnica
se bem que é isso que os ocidentais fazem né?
mas querendo ou não sem romantismo, a história já conta isso...a morte as vezes é o caminho
o alerta geral da nação
ainda que seja o caminho para a destruição da raça humana
se mato eu morro também.

Sempre queremos utopizar a realidade
é isso...mataram Jesus cara...
pense ai..., o que vale sua vida então?
se mataram o filho do homem...
Diebo, trouxeram nossos antepassados pra cá a força
acabaram com aldeias
reinos
famílias
dizimaram povos
emocionalmente.

Sou o que?
não posso suportar essa falta de respeito, desamor com o semelhante
é preciso chocar
não quero fazer nada ditado,
somente sentido
na pele
na alma
só que daqui fica mais difícil.

Submetidos a tamanha humilhação que nem acreditamos em nós mesmos
e essa confusão de identidade reflete no povo brasileiro
forçados a ser submissos e aceitar
você não sabe sua origem, sua estima e sua própria estrutura
boca fechada e cabisbaixo
nem sei quem sou Diebo, descendo de que família? Em qual tribo oriunda meu povo?
Qual parte da áfrica?
Angola? Nigéria?

Surto de poeta inóspito e decrépito numa cadeira sem almofadas

Surto de poeta inóspito e decrépito numa cadeira sem almofadas

Onde balança as pernas e o corpo

Onde surgem novas idéias de velhos pensamentos

Saia de mim tudo que for correto e concreto

Saia de mim

Saia de Iasmim

Agora em São Salvador estou apenas em pensamentos e corações

Agora em Natal estou ouvindo mamãe e suas orações

Tenho ânsia de poesia e de amor e de calor e de nem sei o quê

Surtando nessa cadeira sem almofadas eu quero sair

Saia de mim

Saia de Iasmim

Agora sinto o vento secar as minhas lágrimas de poeta

Lágrimas que alimentam a minha saudade e a minha infância

Mesmo sabendo que o samba existe choro...

Sentado nessa cadeira sem almofadas eu surto e saio de mim

Saia de mim

Saia de Iasmim

Sentimentos aleatórios e contraditórios, às vezes os tenho....

Um assombro de tirar-me o sono e certos arrepios

Um misto de amor e ódio de carinho e brutalidade

Um surto nessa cadeira sem almofadas foi uma boa saída

Saia de mim

Saia de Iasmim

Se for pensamento e sentimento esse surto que me confunde

Falaria de samba e de amor e de sexo e de outras coisas que não sei

Quero uma onda que refresque e me inunde

Pela noite adentro de outras galáxias que também prosei

Já não sei se fico ou se saio

Dessa saia cor de vinho

Que me surta me alucina e me deixa assim

Saia de mim

Saia de Iasmim

Confronto de titãs e adamastores

E essa cadeira...

Causando tantas dores

Surto de um poeta decrépito e inóspito

Que pede a Iasmim a doce Iasmim

Saia de mim

Saia de Iasmim...

Quero ser cult

Cullto ao corpo, culto ao belo...tudo cult hoje.
Sol, praia, faculdade, trabalho e ainda assim cult, as vezes curto essa modinha também,
chata e estereotipada mais é cult. Mendigo também é cult!

É o avanço tecnológico, sem dúvidas...transpondo territórios com um simples clic...
acho que vou fazer música em vez de poemas, além de cult isso pode dar grana,
mais um avanço da tecnologia , nesse caso monetária...
Confrarias de opiniões e textos hipermidiáticos
Ciberespaço, cibercultura, high tech...posso até gozar com o passar do mouse.!
Outros tempos ser cult era ler, ir a saraus, falar francês...dizem por ai que ser boêmio é ser cult!
Será cult o grotesco? Ou grotesco o governo? Ou governo é cúlt? Taí, foi nome de refrigerante... agora é abreviação de estar ai, o que é cult no msn.
Fico com uma, fico com outras, assim meu irmão caçula é cult...dezenove anos, aproveite!
Diz que tá cheio de vaginas. Conversando com uma amiga ela disse que prefere chamar de lilica, deve ser cult né!
Engraçado, hoje trepar é cult antes era motivo de desonrar uma família, e o povão que vive na miséria então é a nata da essência de ser cult, não acaba nunca de fazer filhos...
Trabalhar num escritório, secretárias, auxiliares de serviços gerais, ascensoristas, porteiro e você comandando tudo...é ser muito cult!
Bermudão, óculos escuros, prancha de baixo do braço, chinelo de dedo
Até casamento é cult...
Cansei de ser cult, vou montar minha banda EMO.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

E o fim, onde começa?

Obstinados na busca por anseios, desejos, realizações ou frustrações.
A procura de uma vida, entre caminhos que levam ao certo e o errado
Itinerantes de um rumo sem lógica
nas milhas de uma falsa evolução.
Destinos, coincidências e por ventura ou acaso, planejamentos.
Será mesmo o umbigo o centro do universo? Ou uma extensão de uma pseudovida intra-uterina?
Cada instante se refaz em sensações, em percepções, em compreensões ou na falta delas.
Instituições e convenções para serem codificadas.
É tudo sempre tão real que nem se fala ou questiona-se o depois
e ainda assim é tudo tão sombrio, que de tão sombrio, e como tudo que é tão sombrio se torna mítico, escuro e imprevisível.
Por trás de uma única palavra aparecem dobradiças
que não se oxidam com o tempo
e que a todo momento fazem o mesmo movimento
em tudo e em todos
E por mais que cada letra tenha um significado, som ou qualquer item que faça parecer inteligível, quiçá compreensível, nada é tão contraditório aos sentidos quanto tudo que está descrito nas letras da palavra M-O-R-T-E.